Encravada em uma região de Rondônia, no arco do desmatamento, cooperativa agroflorestal serve de modelo socioambiental na Amazônia
Reca: uma forma sustentável de conviver com a floresta
AGROFLORESTA
Nos anos 80, enquanto o país retomava eleições diretas e debatia uma nova Constituição, brasileiros de diferentes partes seguiam rumo ao Norte, onde a floresta embalava sonhos de um futuro melhor.
Um deles foi o filósofo e ex-professor paranaense Sérgio Roberto Lopes, que migrou com a esposa e a filha e se juntou a outros desbravadores, como o carioca Hamilton Condack.
Sérgio Lopes
Hamilton Condack
Apoiado de início pela Igreja Católica e pelo sindicato dos trabalhadores rurais, o grupo fincou raízes em Rondônia e fundou o Reca.
O projeto Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado, o Reca, é hoje reconhecido dentro e fora do país como modelo de produção sustentável.
“Sou um agricultor familiar. Meus filhos estudaram e se formaram. Valeu a pena pela realização pessoal e humana, pelos laços com as pessoas, e pelo retorno econômico. Nosso jeito próprio de caminhar é baseado na cooperação. O projeto é referência em produção na Amazônia, pois traz as riquezas da floresta para dentro dos roçados.”

Sérgio Lopes
A iniciativa está localizada no distrito de Nova Califórnia, a 360 quilômetros de Porto Velho (RO) e a 150 quilômetros de Rio Branco (AC). Os lotes dedicados à agrossilvicultura ocupam 1 mil hectares não contíguos, onde são produzidos itens como cupuaçu, pupunha, copaíba, castanha e açaí.





















A produção anual passa de mil toneladas de polpas, óleos, palmito, amêndoas e sementes. Tudo é comercializado no Brasil, especialmente para indústrias.
Outros arranjos econômicos mais recentes também ajudam na sustentabilidade econômica e socioambiental do projeto, como o “Carbono Neutro”.
A iniciativa é parte de um mecanismo criado pela Natura e o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) que recompensa as famílias do Reca pela conservação da floresta.
Esta imagem deixa claro como a cooperativa conteve o desmatamento. À esquerda, os lotes do Reca; e à direita, outras propriedades privadas. Conforme mapeamento do Idesam, o desmate anual médio nos lotes do Reca foi de 0,93% entre 2013 e 2016, enquanto que no entorno a taxa foi de 1,9% ao ano, 105% maior.

Já entre 2018 e 2020, o desmate caiu ainda mais: foi de 0,52% – um quinto da taxa média observada em propriedades privadas com CAR na mesma região.
“As agroflorestas mantêm gente no campo e não usam químicos como o agronegócio, mas demandam mão de obra qualificada e equipamentos apropriados. Se isso (o Reca) fosse uma política pública forte, espalharia esta forma de produzir e de viver por toda a Amazônia.”

Sérgio Lopes
REPORTAGEM
Aldem Bourscheit

EDIÇÃO
Sílvia Lisboa

IMAGENS Idesam e Natura / Divulgação

MONTAGEM
Laiza Lopes

IDENTIDADE VISUAL Clara Borges